No mesmo dia em que comunicou ao mercado a demissão de Herbert Diess, o Grupo Volkswagen indicou Oliver Blume, da Porsche, para ocupar o cargo de CEO do conglomerado alemão. O executivo chega em momento chave da empresa, que trabalha para consolidar a operação de suas marcas em época de forte transição tecnológica nos mercados desenvolvidos.
Abaixo listamos alguns dos grandes desafios do novo chefe à frente da companhia.
Um dos pilares da estratégia chamada New Auto é a eletrificação, e a empresa vem experimentando entraves no processo de consolidação da sua nova oferta global equipada com powertrain elétrico. Boa parte dessa transformação se dará por meio de software, uma área que é igualmente sensível e estratégica para a montadora.
Em 2019, foi anunciado aporte de US$ 9 bilhões na área para custear um desenvolvimento mais robusto dos projetos envolvendo sistemas internos — há em curso a busca por uma produção dentro de casa de 60% de todos os softwares
aplicados nos veículos do grupo até 2025. Foram contratados mais de 10 mil desenvolvedores e estabelecidas novas subsidiárias dedicadas aos sistemas veiculares.
A empresa, no entanto, teve dificuldades em conciliar o desenvolvimento de alguns desses sistemas com o lançamentos de modelos da sua nova oferta, especificamente a do elétrico ID.3 e de uma nova versão do hatch Golf. No caso do ID.3, o atraso se deu à época porque o software de gerenciamento do modelo não estava pronto a tempo do seu lançamento, em 2020.
Os atrasos ocorridos por causa dos software foram vistos no mercado como uma fraqueza do Grupo Volkswagen na disputa com a Tesla pelo mercado de elétricos. A montadora de Elon Musk tem oferta mais consolidada na comparação com as empresas tradicionais, que ainda correm para transformar os seus modelos de negócio e os seus portfólios de veículos elétricos, como é o caso das marcas VW.
A Tesla está à frente na implantação regular de atualizações de software pelo ar (over the air, em inglês) que adicionam recursos e melhoram o desempenho de seus veículos depois que eles saem do showroom. Aproveitar as oportunidades que o software traz, incluindo novas formas de receita, é a próxima fronteira do setor.
Por estar à frente nessa disputa tecnológica, a Tesla vem ganhando participação na China, maior mercado do mundo e a menina dos olhos das fabricantes quando se trata de veículos elétricos. De janeiro a maio, a montadora deteve a terceira maior fatia, com 6,6%, atrás da líder BYD (27,9%) e da segunda colocada SGMW (10,1%).
No primeiro semestre, as vendas totais do grupo na China caíram 20,5%, mas cresceram as vendas de modelos elétricos. Até junho foram vendidas 63 mil unidades de elétricos, aumento de 247% sobre uma base pequena que constituiu o primeiro semestre de 2021. Na China são vendidos os Volkswagen ID.3, 4, 5 e 6.
A aceleração das vendas de elétricos nos Estados Unidos também é algo a ser enfrentado pelo novo CEO do grupo. No primeiro semestre, segundo balanço da companhia, os emplacamentos na categoria somaram 17 mil unidades, um resultado que representa queda de 8,5% ante ao de igual período no ano passado. Naquele mercado são vendidos os modelos VW ID.3, 4 e 5, os Audi e-tron e Q4 e-tron, Porsche Taycan e o Skoda Enyaq iV.
Segundo projeções da LMC Automotive, a Tesla (outra vez ela) deverá encerrar o ano como líder no mercado estadunidense, com fatia de 54,8%, enquanto que a VW deterá uma participação de 5,8%, a quarta maior atrás de Hyundai (10,3%) e Ford (8%), além da própria Tesla.
As projeções da consultoria mostram uma diminuição da presença da Tesla na região até 2030, considerando uma maior distribuição entre os demais players do mercado de elétricos. E é justamente esse um dos principais desafios do novo CEO Oliver Blume, manter o crescimento da companhia neste que é um dos principais e mais concorridos mercados de elétricos do mundo.
O Grupo Volkswagen avalia um IPO para a Porsche, que é um de seus ativos mais lucrativos. A decisão final ainda está sujeita à aprovação do conselho de administração, mas a companhia já começou a alinhavar o spin-off com seus principais acionistas. A operação levantaria cerca de € 20 bilhões e conduzir o processo seria algo visto como prioridade na lista de tarefas do novo CEO.