Hoje (e desde sempre), o carro usado é considerado como a principal moeda na compra do carro novo.
O mercado de usados aquecido reflete automaticamente no sucesso – ou no insucesso – do mercado de novos.
Além disso, desde a época do “guaraná com rolha”, o brasileiro médio sempre teve dois grandes sonhos: a casa própria e o carro próprio.
E, se o sonho da casa própria vem ficando cada vez mais longe, o do carro próprio não. Já que que possuir um “carro próprio” não significa necessariamente ter um carro novo.
Nos últimos dez anos, a indústria de carros novos se encontra em trajetória de ladeira abaixo. Mas, quando somamos as vendas de veículos novos e usados, percebemos que na última década o mercado de veículos mostrou uma trajetória diferente.
O mercado total de veículos oscilou num range de vendas entre 1 milhão e 1,1 milhão de veículos/mês (excluindo o ano pandêmico de 2020).
Ou seja, na última década, o consumidor brasileiro costumeiramente adquiriu um veículo para uso próprio, seja novo ou usado.
Mas o grande diferencial deste ano é que o mercado de usados travou.
No fechamento do primeiro semestre de 2022, o mercado de veículos usados registrou vendas de 4,37 milhões de unidades, uma retração de quase 20% sobre o 1º semestre de 2021, quando tivemos 5,45 milhões de unidades comercializadas.
Ou seja, deixamos de vender quase 1,1 milhão de carros usados neste 1º semestre.
Esse é um dos reflexos para o mal desempenho do mercado de novos. Se o mercado “secundário” de veículos não vem rodando, isso trava automaticamente o mercado de novos.
Lembrando que o mercado de novos registra retração de uns 15% neste semestre.
E essa é apenas uma das explicações plausíveis para a queda no setor.
Outra explicação que colabora com a derrocada de toda a indústria é a de que os bancos não querem mais brincar com o pessoal do setor automotivo.
Se fizermos um corte de 2008 até 2022, percebemos que a participação do crédito veio despencando ao longo dos anos. Se, em 2008, 50% dos veículos vendidos eram financiados, neste ano estamos com uma participação de 38,5%, o que representa uma perda de 11,5 pontos percentuais.
E a maior queda, por incrível que pareça, deu-se no mercado de veículos novos: uma queda de mais de 16 pontos percentuais, saindo de uma penetração de 56% para menos de 40% neste ano.
Você deve estar pensando: “ok, em linhas gerais, você falou que o grande problema do setor é a falta de crédito”.
Sim, mas tem mais. Como estamos no Brasil, devemos lembrar que tudo pode piorar!
Outro fator que influenciou absurdamente (e negativamente) a indústria, foi a elevação dos preços dos carros –novos e usados.
Aqui, um dos pontos que vamos mostrar para vocês, caros leitores, é: “esqueça o mercado de ações!”.
Se você tem uma carteira atrelada ao Ibovespa, que registrou queda de 17,26% nos últimos 18 meses (ou 22,29% no último ano), saiba que um dos melhores investimentos (?) que você poderia ter feito é ter comprado um carro novo e o segurado por esse período!
Aí conversamos com o pessoal da MOBIAUTO, que fez um estudo sobre como evoluíram os preços de algumas versões de carros, desde o começo do ano passado até o final deste 1º semestre.
Dos 136 veículos estudados, a pesquisa apontou que a valorização média dos carros ficou por volta de 8,26%. Ou seja: se você, caro leitor, comprou um carro de R$ 100 mil no começo do ano passado, ao final do 1º semestre deste ano o mesmo veículo estava avaliado por volta de R$ 108.260,00.
Pegando apenas os 20 principais modelos que apresentaram maior valorização no período do estudo, temos uma valorização média de 20%, oscilando entre um range de 16% até 28%, conforme tabela abaixo:
Quando a gente verifica as famílias dos carros (agrupando todas as versões), a valorização média do preço dos carros ficou por volta de 7,38%. Pegando apenas os 20 principais veículos, a média deles é de 11,8%, oscilando entre um range de 6% e quase 21%.
Na real, não é só a falta de crédito que vem causando a derrocada do setor. A inflação sobre o carro novo (e usado), sem uma recomposição da renda média do brasileiro, só tende a piorar toda a situação.
Na verdade, depois de dois anos de pandemia, acreditamos que o grande mal do mundo moderno é a inflação global, que está afetando a tudo e a todos.