O presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, ao comentar o resultado das vendas totais de veículos em junho, com uma queda de 6,64%, disse que o recuo pode ser atribuído ao fato de junho conter um dia a menos que maio. “E um dia a menos representa 5% do faturamento do nosso setor”, disse Andreta.
No entanto, segundo o presidente da Fenabrave, a despeito das dificuldades, o setor vem melhorando e tende a melhorar mais, especialmente no segundo semestre. Isso porque, de acordo com ele, na carteira de pedidos das concessionárias há uma lista de 500 mil unidades.
“O histórico de crescimento das vendas no segundo semestre é de 13% e, neste ano, temos o sistema Renave para carros usados”, disse Andreta, acrescentando que, com a aprovação deste mecanismo, muitos vendedores que atuam na clandestinidade vão passar à legalidade e isso vai contribuir para aumentar as vendas” disse.
O Renave é uma funcionalidade do Registro Nacional de Veículos em Estoque, que foi instituído para aumentar a segurança na venda de veículos zero quilômetro no Brasil. Agora esse mecanismo está disponível para usados.
Outro ponto que leva à expectativa de melhora das vendas é o montante de veículos semiacabados nas montadoras a espera de peças. Na medida que a peça faltante chega para as montadoras estes veículos são liberados para as concessionárias.
Para a economista Teresa Fernandes, da TF Assessoria, empresa que presta assessoria econômica à Fenabrave, encerrar o ano de 2022 com as vendas de veículos estáveis, conforme prevê o setor, é muito positivo se for levado em conta que o ano iniciou com o setor tendo recuo superior a 20%. “Zero a zero é positivo para quem começou o ano
caindo 23%”, disse a economista.
O presidente da entidade, José Maurício Andreta Júnior, no entanto, acredita que pode ser possível o ano fechar corroborando a primeira previsão feita em janeiro, que apontava para um crescimento de 4,6% no total de vendas em relação ao ano passado.
É que na avaliação do executivo, há uma demanda reprimida de 500 mil unidades nas montadoras. Ou seja, há meio milhão de veículos semiacabados parados nos pátios das montadoras à espera de peças para serem liberados para a rede de concessionária.
“O que o Andreta está dizendo é que existe uma demanda reprimida e tudo o que for produzido será vendido”, disse assessora econômica da Fenabrave.
Ao fazer uma análise do setor automotivo em nível global, Fernandes lembrou que as medidas tomadas pelos governos contra a pandemia, despejando dinheiro na economia num momento em que a produção zerava, trouxeram inflação para os insumos voltados para a produção de veículos, como, por exemplo, minério de ferro.
Aliado a isso, houve aumento dos preços de modo geral, agravado com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que levou os bancos centrais a puxarem suas respectivas taxas de juros para tentar, ao menos, reduzir o descompasso entre demanda e oferta.
No Brasil, segundo ela, não foi diferente. O governo impulsionou o consumo ao colocar dinheiro nas mãos da população, o que levou o BC local a sair na frente dos seus pares no mundo e elevar a taxa Selic. A inflação continua elevada, podendo fechar o ano em torno de 8% e só recuar para 4,5% no ano que vem.
“Devemos entregar a Selic perto de 14%, o que pode restringir o crédito e aumentar a inadimplência em função das taxas. Os bancos já estão restringindo as operações de crédito e essa restrição deve aumentar no ano que vem”, disse Fernandes, lembrando que, embora a taxa de desemprego esteja recuando, a inflação continua corroendo a renda dos trabalhadores.
No entanto, segundo ela, a demanda reprimida pode assegurar a melhora das vendas para, no mínimo, o setor fechar o ano com nível igual ao do ano passado, quando foram comercializadas 3.367.119 unidades.