A demanda crescente por carros eletrificados deveria ser o principal motivo para haver um “barateamento” nos preços dos carros eletrificados. Mas não é isso que vem acontecendo.
Na Europa, quase ¼ dos carros vendidos são eletrificados – e isso mostrou que existe um descompasso entre a produção e a obtenção de matéria-prima para sua construção. Insumos essenciais para a fabricação dos carros elétricos sofreram reajustes pesadíssimos.
Um exemplo foi o lítio, que apresentou valorização de quase 350% em um ano. Além disso, outros materiais como o cobalto e o níquel estavam em trajetória de alta astronômica.
Atualmente, o preço deles está altamente volátil com o início da guerra entre Ucrânia e Rússia. No mês passado, por exemplo, a GM majorou em US$ 6.250 o preço de sua linha de picapes elétricas.
Ou seja, não existe perspectiva de baixa nos preços dos principais insumos para a fabricação dos carros eletrificados. Existe sim, uma trajetória de alta nos preços e, consequentemente, no preço final dos veículos.
É, pessoal, como já disse certa vez Hamlet: “Há algo de podre no reino da Dinamarca…”.
Em linhas gerais, o mercado eletrificado vinha numa crescente devido à “intervenção estatal”. Por exemplo, os alemães davam aos consumidores € 6 mil em incentivos para aqueles que compravam carros eletrificados de até € 40 mil. Mas o ministro da economia alemão já avisou que vai derrubar pela metade esse valor para 2023. Para os carros híbridos plug-in, o benefício será “zerado” em 2024.
O grande ponto aqui é que o mundo quebrou o seu status quo, e ele está sentido o gostinho de como é viver “tipo no Brasil”. Após o arrefecimento da pandemia, tivemos um leve suspiro, mas logo depois começou a guerra Ucrânia versus Rússia, mostrando como o mundo é globalizado – e, com isso, as crises econômicas foram “socializadas”.
O baixo desempenho da economia global fez todos voltarem a atenção para dentro de casa, arrumando o que é preciso arrumar (fim dos subsídios, por exemplo), além da alta contínua dos custos (inflação) lá para o povo da “Zoropa” e, consequentemente, aumento nas taxas básicas de juros.
O mercado de carros eletrificados possuía aquela aura de ser a solução para todos os problemas ambientais do mundo. Você, caro leitor, possuidor daquele mítico Opala Comodoro seis cilindros, era visto como uma das bestas do apocalipse, por ter um carro alcoólatra que não é “friendly” do meio-ambiente.
Pois bem, um dos desdobramentos do conflito Ucrânia x Rússia foi a escalada dos preços de energia. Segundo o FMI, os consumidores da Zona do Euro irão sentir um reajuste de 40% no preço da energia (no Reino Unido, a estimativa é de um aumento de 57%).
Soma-se a isso o fato de que, na Alemanha, o governo, prevendo uma possível escassez energética (para o rigoroso inverno, no final deste ano), já botou em funcionamento as suas termoelétricas movidas a carvão!
Ou seja, o ganho (financeiro) que existia para a rodagem do carro elétrico frente ao veículo à combustão diminuiu. Na Europa, segundo um levantamento de abril deste ano, existia uma diferença no custo de carregamento na ordem de 227% entre o país mais barato (Hungria) ao mais caro (Dinamarca).
Hoje, com a volta das termoelétricas movidas a carvão, o benefício ecológico de longo prazo praticamente foi zerado.
No Brasil, para a eletrificação realmente decolar, é necessária uma vontade governamental de construir infraestrutura para a adequação dos postos de carregamento.
Em resumo, se eu não tiver uma rede elétrica decente, não será possível a colocação de pontos de carregamento. E, quando falo em pontos de carregamento, não é aquele ponto monofásico de 3,7 kW, que demora umas 15 horas para carregar um veículo (esse é o que você tem em casa), mas sim aquele ponto trifásico que vai jogar uns 350 kW (quase uma miniusina) e carregar o carro em meia hora.
O que acontece nesse ponto é aquele clássico dilema de Tostines: “Eu compro um carro elétrico pois sei onde carregar? Ou eu sei onde carregar o carro elétrico e por isso eu vou comprar um?”
Sem uma infra bem estruturada, o carro elétrico ainda demorará para acontecer em terras tupiniquins.
Gente, essa veio da Suíça – e tenho 100% de certeza que algum “jenial” político brasileiro vai tentar chupinhar a ideia!
Vamos a um preambulo: lá na Europa, existe uma política de eletrificação de carros com subsídios governamentais. Na Itália, por exemplo, o governo provisionou € 650 milhões no período de 2022 até 202, para clientes de veículos elétricos. Mas, tanto lá, como cá, existe uma tributação sobre combustíveis fósseis que faz parte da receita governamental.
Agora imagine: aparece em nossa frente a fada madrinha da Cinderela e… “Bibbidi-Bobbidi-Boo!”, ela eletrifica grande parte da frota de veículos! O primeiro pensamento dos nossos excelentíssimos governantes (tanto no âmbito federal como no estadual) é: como vou repor o dinheiro do ICMS, Pis/Cofins e Cide?
Sabe toda essa briga recente para a redução do custo do combustível? Como repor esse dinheiro com o carro elétrico? Ou seja, pela primeira vez no facílimo processo tributário brasileiro, os governos não teriam capacidade de cobrar impostos sobre combustíveis, já que a maioria carregaria o seu carro em casa. E a imposição de um novo imposto de eletricidade apresenta novos obstáculos.
E qual é a solução (ainda em estudo) dos políticos suíços? Tributar por quilometragem rodada! Lógico que o primeiro empecilho é a questão da privacidade. Mas pode ter certeza de que, enquanto existe uma quantidade gigantesca de “n” engenheiros tentando fazer o carro elétrico virar uma realidade, existe uma dúzia de políticos pensando em: “como posso colocar água nesse chopp?”.