A Volvo se prepara para uma ofensiva de modelos elétricos na América do Sul mas, antes, há alguns pontos a serem considerados — e superados — pela montadora. Um deles é a alíquota de imposto de importação que incide em modelos que a montadora já tem em sua oferta eletrificada global.
“Para demonstrarmos ao mercado a viabilidade do caminhão elétrico, precisamos trabalhar inicialmente com baixos volumes de unidades importadas. Hoje existe incide sobre o cavalo mecânico uma alíquota de 35% que dificulta os negócios nesse primeiro momento de testes. Defendemos o imposto zero para empresas que tem compromisso com produção local”, disse Wilson Lirmann, presidente para a América do Sul à Automotive Business.
Segundo o executivo, hoje a tributação com alíquota zero incide apenas sobre alguns modelos, como é o caso dos caminhões rígidos, sem implemento articulável. Ou seja, apenas uma parte do portfólio Volvo é contemplado por este tipo de incentivo fiscal concedido pelo governo brasileiro.
Conversamos com o executivo na quinta-feira, 16, durante a divulgação dos resultados da companhia em 2022 e suas projeções para o mercado em 2023, nada animadoras. Afora a questão fiscal, Lirmann também falou sobre previsibilidade no mercado nacional e adequação da cadeia de fornecedores brasileiros às demandas da eletrificação.
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Automotive Business — O que precisaria acontecer no cenário fiscal do país para eventualmente melhorar esta projeção de queda do mercado de pesados em 2023?
Wilson Lirmann — Precisamos ter um crescimento sustentável que se dá por vários fatores. Questão fiscal é um ponto central mais não é apenas isso. Nosso cenário fiscal reflete um Estado que é muito pesado, recebe muitos recursos da sociedade e devolve pouco em termos de serviços e investimentos. Devolve pouco em educação, precisamos de gente capacitada e estamos ainda muito atrás de outros países nisso.
Quando o Estado toma muito, sobra pouco para a iniciativa privada investir e reduz a capacidade de consumo das pessoas. Então a questão fiscal é importante porque equilibra um pouco este cenário, mas não é o único ponto. Precisamos de um ambiente de negócios mais saudável cujas regras não mudem o tempo todo.
AB — Quais regras mudaram?
Lirmann — Por exemplo, a discussão em torno da autonomia do Banco Central. Sobre as estatais e como elas deveriam operar. No ano passado, de uma forma muito rápida, mudou. O judiciário discutindo questões fiscais que já foram julgadas que eventualmente podem ser revistas da noite para o dia. Isso tudo vai criando uma série de incertezas. Precisamos ter um pouco mais de previsibilidade nas coisas. O Brasil perdeu uma década de crescimento. Nós vamos perder mais uma? Se não nos unirmos em torno de um projeto de país com agendas comuns, teremos dificuldades em avançar em vários aspectos.
AB — A discussão em torno da alíquota zero para importação de veículos elétricos reflete de alguma forma na estratégia da Volvo de trazer modelos eletrificados para o mercado local?
Lirmann — Sim. Nós precisamos de um período de adaptação de um produto que seria importado, baixos volumes, para a gente poder mostrar a viabilidade do veículo elétrico. Nós achamos que é importante a isenção por determinado período com compromisso de investimento local. Temos uma grande operação industrial no país, com cadeia de fornecedores, queremos ver essa cadeia trabalhando em torno da eletrificação, nós vamos investir nisso.
AB — Será possível produzir caminhões elétricos no país?
Lirmann — Veículos elétricos também dependem de infraestrutura, que demanda um investimento alto. Precisamos fazer crescer os volumes globais para ter economia de escala. Então no momento não existe viabilidade de industrializar baixos volumes no Brasil, por isso precisamos começar com veículos importados com isenção de imposto de importação.
O Brasil precisa ter um plano de longo-prazo. Precisamos também mudar um pouco o conceito do que será considerado conteúdo local. O país precisa se integrar na cadeia global de fornecedores, mas não será possível produzir 100% de um caminhão elétrico no Brasil. Um dos componentes centrais será a bateria, por exemplo. A produção global está muito concentrada hoje e demanda investimentos enormes. Por outro lado os pacotes de baterias certamente teremos aqui no Brasil.