As previsões de montadoras, consultorias e financeiras apontam para um crescimento de vendas de veículos em 2023 entre 4% e 8%. Porém, os dados de emplacamento de janeiro estão abaixo do esperado e é preciso ter uma visão mais ampla do setor automotivo para navegar 2023. O nosso acompanhamento diário – Daily Dashboard – realizado pela Bright Consulting mostra um ritmo de vendas inferior à projeção, embora 9% acima do mesmo período de 2022.
Diz o ditado que, se alguém não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. Como corolário desse ditado, é muito difícil avaliar o avanço ou retrocesso sem saber onde se deveria estar. Dessa forma, a Bright Consulting costuma mapear os licenciamentos diários de acordo com o calendário de fins de semana, feriados e eventos. O mês começou bem com os emplacamentos dos veículos leves faturados ainda em 2022, porém o volume caiu abaixo da nossa projeção.
Enquanto todos os meses do segundo semestre de 2022 tiveram participação de vendas diretas acima de 50%, com um recorde de 55% em novembro, o faturamento direto andou abaixo dos 40% nos últimos 15 dias. Reflexo das férias? Com o natural crescimento de fim de mês, espera-se que este índice alcance 45%. O fiel da balança é o emplacamento feito a partir do showroom, componente orgânico das vendas, que veio crescendo até 4.439 veículos por dia em dezembro e caiu para 3.265 unidades/dia em janeiro, número equivalente a janeiro 2022. Aqui também pode estar refletido o primeiro período de férias livres de covid-19.
Até que ponto esse começo lento de 20223 pode comprometer o volume de 2,05 milhões de autos e comerciais leves projetado pela Bright Consulting para o ano? Ainda é cedo para dizer. Tem muita coisa para acontecer, como veremos a seguir.
A evolução de preços arrefeceu em 2022 como pode ser demonstrado pela tabela abaixo, conhecida dos nossos leitores.
As duas colunas à direita mostram a variação de dezembro de 2021 a dezembro de 2022, com um pequeno aumento dos preços de lista, mas os preços de transação já passam por declínio. Nem bem começou 2023 e já recebemos informações de montadoras que reduziram seus preços – surpresa! – e ofertas enormes em bonificação, valorização do usado e taxas subsidiadas.
Esse movimento deverá se ampliar durante 2023. A recuperação de salários com a redução dos valores efetivamente pagos pelos veículos devem ser mais um fator a garantir um volume da indústria acima dos 2 milhões de unidades, não alcançados nos últimos 3 anos.
Quando dissemos que o trabalho deve começar logo, nos referimos ao acompanhamento dos movimentos legislativos e fiscais que podem trazer alguma aceleração ao ritmo da indústria automobilística. A Bright Consulting tem registrado suas recomendações para que governo, associações, montadoras, sistemistas e agentes financeiros alinhem suas expectativas. São 7 tópicos:
• Redefinir a tributação dos veículos com vistas à descarbonização e simplificação do modelo tributário;
• Regular as próximas fases do Rota 2030 com foco nas competências do Brasil em biocombustíveis e sistemas futuros de célula de combustível, incluindo pesquisa e desenvolvimento;
• Ajustar as barreiras fiscais ao automóvel eletrificado importado e componentes, para que sirva de acesso a tecnologias ainda inexistentes por aqui, porém permitindo que a produção local resulte viabilizada;
• Oferecer meios para a eletrificação gradual das frotas de ônibus urbanos, inclusive com planos de localização gradativa como destacado no tópico anterior;
• Evoluir nas negociações com União Europeia e outros países para o comércio de veículos;
• Alavancar a utilização da capacidade instalada pela regulamentação da inspeção veicular com impacto imediato na reciclagem de veículos;
• Fomentar o comércio de veículos mais acessíveis, aqueles considerados de entrada, para também alavancar a capacidade produtiva instalada.
Estes objetivos têm desdobramentos ambientais, sociais e econômicos dentro da mais inclusiva esfera ESG. Para todas estas ações é necessário o alinhamento entre os atores para que as ações produzam resultados efetivos. Existem objetivos consensuais e outros conflitantes, com cada ator tentando puxar a brasa para sua sardinha. O sucesso ou não destas negociações é que vai mostrar em dezembro se avançamos ou retrocedemos. E tem de ser rápido se não quisermos ter mais um ano perdido.